Eu nasci em Belo Horizonte. Meus pais são funcionários públicos. Minha mãe é farmacêutica e meu pai trabalha na parte administrativa de um hospital. Sou a filha mais velha de 4 irmãos. Meus amigos brincam que fui muito privilegiada por ser a segunda geração de graduados em uma família negra.
Com muito esforço meus pais conseguiram nos dar liberdade na infância e adolescência para aproveitar. Tínhamos o acordo de estudar e não precisar trabalhar.
Quando era criança eu queria ser astronauta. Não tinha muito motivo pra isso. Era uma criança curiosa. Queria também trabalhar na televisão ou ser professora. Durante a adolescência eu pratiquei esportes e trabalhei um tempo como modelo. Quando chegou a hora de decidir uma profissão, apesar de eu não saber bem o que queria eu sabia o que eu não queria. E foi por aí que eu segui. Fui eliminando o que eu não gostava, como trabalhar em hospital, por exemplo.
Sou comunicativa e minha mãe conta que eu sempre fui muito argumentadora. Por isso pensei em fazer Direito. Mas depois de fazer cursinho e visitar uma dessas feiras de profissões, percebi que aquilo não tinha nada a ver comigo. Achei as pessoas travadas, me pareceu meio sem graça.
Nessa de eliminar o que eu não curtia acabei chegando em Economia. Sempre foi muito boa de Humanas e Exatas e esse é um curso que junta as duas ciências.
A princípio minha mãe foi contra. A gente tinha contato com outros profissionais, mas não conhecíamos nenhum economista, principalmente negro. Mas acabei seguindo para essa graduação.
Ao contrário do que muita gente pensa, a Economia é uma ciência social. Está muito mais ligada à forma como o ser humano ocupa os espaços e faz suas relações do que o dinheiro em si. A gente troca serviços por dinheiro porque é mais fácil que outras trocas.
Eu entrei na faculdade com 17 anos. Era uma instituição particular. Gostei dessa escolha, pois normalmente no ensino público eu teria ido para um caminho mais teórico/conceitual da Economia. Ter professores que estão atuando direto no mercado faz diferença.
Durante a graduação eu cheguei a trabalhar e estudar nos 3 períodos. Trabalhava na própria faculdade pela manhã, dando monitoria, à tarde estudava e à noite fazia estágio.
Comecei na área estagiando em Inteligência de mercado e desde então já fiz muita coisa legal. Hoje trabalho no relacionamento com empresas e sou responsável por uma consultoria estratégica, ou seja, ajudo grandes e médias empresas a redefinirem suas estratégias de negócio, seja via inovação ou falando de novas linhas de receita. Também sou colunista em alguns veículos de imprensa.
Para atuar com estratégia e inovação em negócios é importante ser uma pessoa curiosa, ter habilidade de planejamento, de pensar possibilidades. Saber fazer boas perguntas e ter a habilidade de fazer conexões. E, pra hoje, é muito importante aprender o que chamamos de metodologias de Produto.
Meu trabalho me permitiu conquistar uma qualidade de vida bastante confortável. Moro em um bairro legal, tenho uma boa casa. Nada é luxo, mas tenho o padrão de vida que meus pais levaram o dobro de tempo pra ter. Por causa do meu trabalho também só esse ano eu já estive duas vezes na ONU e me tornei conselheira do Pacto Global. Hoje sou amiga próxima de pessoas que eu já admirei. Também pude atuar com impacto social, criando projetos que unem pessoas negras para pensar tecnologia e equidade racial..
Para o futuro eu tenho alguns projetos. O primeiro é resgatar o esporte na minha vida. E em segundo lugar quero continuar articulando em espaços cada vez maiores como a criação de grupos de investidores-anjo de pessoas negras. Quero continuar me posicionando como uma profissional de Estratégia e levar o meu impacto para a sociedade civil.
Meu nome é Amanda Graciano e eu sou mais uma (Se)mente.
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