Nasci no Brás, Zona Leste de São Paulo. Quando minha mãe entrou em trabalho de parto, meu pai não estava em casa, então nasci dentro de um carro de polícia que estava ajudando ela a chegar no hospital. Fui criada em um cortiço onde morava perto de muitos parentes, até que o local foi desapropriado e precisamos nos mudar.
Estudar sempre foi um prazer pra mim, e meu pai sempre me falou que o que iria mudar minha vida seria o estudo. Quando ele faleceu, ainda na minha adolescência, ele realmente tinha deixado esse legado pra mim. Mas eu tinha poucas referências para saber o que queria ser ainda na infância. Pensava em ser professora porque era uma das poucas profissões que tinha mais próxima do meu dia a dia.
Tive meu primeiro emprego aos 16 anos, em uma rede de fast food dentro de um shopping. Aos 16 anos, precisei começar a trabalhar quando meu pai morreu e minha mãe precisava de ajuda financeira para criar outros 4 irmãos mais novos.
Minha primeira experiência tendo uma liderança e alguém que se preocupava em me desenvolver como profissional foi trabalhando em uma loja de aviamentos – uma espécie de armarinho para costura – na 25 de março. Lá, comecei como atendente e me tornei uma profissional que sabia lidar com contas, com crédito. Foi com esse conhecimento que fui indicada por um amigo da família para trabalhar no Bradesco.
Em todas as oportunidades de trabalho que tive, as pessoas sempre ficaram impressionadas com a minha velocidade de aprender coisas novas.
Ao terminar o ensino médio, fui fazer um curso técnico em Contabilidade e um dos meus professores nesse curso me falou de uma vaga em uma empresa de saúde, para trabalhar com contas médicas. Foi aí que minha história na área de saúde suplementar começou e passei os 30 anos seguintes trabalhando no mercado de planos de saúde. Quando comecei, o processo de faturamento e pagamentos era muito manual e com pouca auditoria. E eu acompanhei todo o período em que esses processos foram sendo digitalizados e automatizados, para ter menos indício de fraude.
Em 2018, durante minha atuação em uma grande empresa do setor de planos de saúde, me envolvi com o Coletivo Melanina, que é um Grupo de diálogo de Inclusão e Diversidade do UnitedHealth Group Brasil. Nessa época, comecei a me envolver mais com diversidade e voltei a estudar. Já tinha feito MBA em Gestão de Saúde, graduação em processamento de dados e MBA em negócios. Atualmente estudo Cultura e Relações Étnico Raciais na USP e Ciências Humanas na PUCRS, precisava desse repertório pra seguir minha caminhada nessa área, porque percebi que falar apenas da minha história não era falar por todas as pessoas pretas.
Quando surgiu uma vaga na área de Diversidade dentro dessa empresa, eu me candidatei e passei, estou trabalhando com isso há dois anos. Atuar na área de diversidade tem sido desafiador e incrível. Hoje olho para o desenvolvimento de pessoas pretas para que elas alcancem cargos de liderança, além de olhar para questões de gênero.
Como pessoa preta no mercado, é importante encontrar as pessoas que vão te ajudar a chegar onde você quer, e quando você chega, você precisa olhar de onde você veio e voltar pra buscar os seus. Quanto mais pessoas pretas estiverem em cada lugar, mais fácil vai ser pra quem tá chegando. Vai ter espaço pra todo mundo, porque eu aprendi que a revolução é preta.
Meu nome é Neusa Lopes e sou mais uma (Se)mente.
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