Nasci no Piauí e sou o filho mais novo de três filhos. Como em toda cidade do interior, todo mundo sempre pensa em três profissões: Medicina, Direito ou Engenharia. Na minha casa, muita gente foi pra área da saúde, tenho irmãos e primos enfermeiros.
Mas, quando eu era adolescente, na época de escolher faculdade, eu reparava que sempre me emocionava e me encantava quando eu via certos comerciais, e isso me dava muita vontade de estudar Propaganda. Na escola mesmo eu já tentava fazer coisas um pouco mais criativas, olhava muito para os anúncios na revista e reparava o nome da agência que tinha feito.
Já no ensino médio eu tive certeza de que queria essa carreira, mas no Piauí, na minha época, ainda não existia o curso de Publicidade e Propaganda na universidade pública. Eu ia na lan house fazer pesquisa e descobri que era em São Paulo que estavam as principais universidades para essa área. Comecei a falar com minha família sobre isso, mas na época, em 2009, era uma coisa muito absurda vir morar em São Paulo. Meus pais não apoiavam e nem tinham dinheiro para bancar essa possibilidade.
Lendo livros de vestibular, conheci uma das principais universidades de Propaganda e Marketing de São Paulo – onde a mensalidade era equiparada ao curso mais caro de Medicina do Piauí. Mas vi que existia a possibilidade de ganhar uma bolsa de 75% se passasse em primeiro lugar do vestibular. Sabia que a única chance que eu tinha era essa.
Estudei muito e consegui essa bolsa! Vim para São Paulo mesmo sem o apoio do meu pais e irmãos. Cheguei com R$ 14 no bolso, dependendo que minha mãe me enviasse dinheiro, e precisei morar de favor com minha tia.
Aqui em São Paulo, tive que me ‘apaulistanar’. Na época que vim ainda havia bastante preconceito com quem vinha do nordeste. Fui entendendo como as pessoas se comportavam, como falavam, pra tentar me incluir.
Ao longo da faculdade, entendi que queria ser redator e fui estudando e desenvolvendo meu portfólio até conseguir ter um estilo de redação que fosse para publicidade.
Entrei como estagiário em uma agência e trabalhei com pessoas que foram ótimas referências. Fui treinado por eles até entrar em uma das maiores agências do país, me tornando responsável por copys de grandes marcas nacionais.
Passei por grandes agências no Brasil até que, no fim de 2021, recebi uma proposta para morar e trabalhar em uma agência de Portugal e topei. Foi nessa época que percebi como nosso trabalho pode nos levar longe. Lá cheguei a ser finalista de um prêmio de publicidade em Portugal e, nesse momento pensava: “nossa, eu saí do Piauí e cheguei aqui”.
Tive a sorte de passar por agências muito boas, mas foram poucas pessoas negras que eu vi nesse lugar de criação. Acho que hoje é essencial ter uma formação de pessoas pretas, para que daqui a 10 ou 20 anos, essas pessoas estejam no mercado como profissionais de alta senioridade. Quero ajudar a treinar essa galera, para que daqui 10 anos eles possam estar sendo contratados em cargos altos.
Meu nome é José Carvalho Junior e sou mais uma (Se)mente.
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