Nasci em Brasília e passei minha infância em Santo Antônio do Itambé, uma cidade pequena do interior de Minas Gerais, onde meus pais nasceram e onde estão minhas origens. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, minhas respostas eram muito variadas, cada época eu queria ser uma coisa. No final do ensino médio pensei em fazer desde Enfermagem à Arquitetura, já que eu transitava bem entre as ciências exatas e humanas.
Na minha casa, falar de estudos sempre foi algo primordial – minha mãe era professora, servidora pública e sempre demonstrou que suas conquistas vieram dos estudos. Essa influência tornou a graduação algo quase obrigatório entre eu e minhas irmãs.
Fiquei muito indecisa na hora de escolher meu curso. Por ter muita facilidade com matérias de exatas, acabava me inclinando bastante às Engenharias. Foi aí que apareceu a oportunidade de estudar sobre Engenharia de Energia. Cresci próximo a uma reserva ambiental, em meio a natureza, fazendas, cachoeiras, moinhos de pedra e ao mesmo tempo muita degradação ambiental, que até hoje muito me indigna, e todo este contraste me influenciou na escolha de poder trabalhar com energias renováveis, em prol do meio ambiente e de toda aquela beleza que me rodeava na infância.
A Engenharia é um curso onde a base de conhecimento matemático é importante. Existe o estereótipo de que matemática é uma coisa muito difícil, mas ela é ensinada de uma forma difícil e, em alguns lugares, não é ensinada tão bem ou tão a fundo, vista a defasagem dessa disciplina nas escolas.
Existe o estereótipo de que matemática é uma coisa muito difícil, mas ela é ensinada de uma forma difícil
A universidade que cursei foi uma das primeiras a implementar cotas raciais, e isso com certeza fez diferença no meu contato com o tema. Surpreendentemente tive dois professores negros durante o curso que me marcaram muito, pela excelência e a representatividade na área de tecnologia e no meu processo de formação.
Além disso, após minha formação como Engenheira de Energias Renováveis, tive oportunidade de participar de um grupo de mentoria para mulheres negras no mercado de energia, a partir daí conheci um mundo de possibilidades no setor elétrico. Vi a importância do networking, mudando a realidade de todas as mulheres do grupo, inclusive a minha. Sou muito grata pela criação desse grupo.
Da mesma forma como aprendi, evolui e me beneficiei das trocas realizadas no grupo, quero possibilitar essas mudanças e oportunidades para outras mulheres negras que estão começando a carreira profissional. Para que elas possam vislumbrar novas oportunidades e criar conexões com profissionais da área. Quero ser essa ponte, me tornar uma referência para outras pessoas.
Meu nome é Priscila Gonçalves e sou mais uma (Se)mente.
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