Eu nasci e fui criado no interior de S. Paulo pelas pelas mulheres pretas da minha família. Minha avó, minha prima e minha tia. Na adolescência vim para a capital para morar com a minha mãe.
Sempre gostei de trabalhos manuais e entender como as coisas funcionam. Meu fascínio por tecnologia começou quando ganhei um computador da minha mãe, aos 11 anos.Mas eu não sabia exatamente o que precisava fazer para transformar aquele hobby em dinheiro.
Meu primeiro emprego foi um estágio em Eletrônica, mas a clareza de carreira só veio anos mais tarde quando fiz outros estágios, inclusive em uma oportunidade fora do Brasil, e entendi as possibilidades dentro da área de tecnologia: Descobri que eu gosto mais de gestão, de aplicar a tecnologia com um objetivo final.
A partir daí passei por empresas de diferentes portes por diferentes motivos. Minha primeira experiência em tecnologia foi em um banco. Depois passei por empresas pequenas em que teria mais autonomia para testar e aprender e também empresas maiores para ganhar robustez de carreira até chegar a posição de gestor. Minha última experiência foi na Natura, como Gerente de Infraestrutura para a América Latina. Saí de lá em 2015.
Foi nesse ano que criei a Biti9, uma empresa de automação de processos, onde exerço a função de CEO. Sentia que o momento de vida era propício.
Estava casado, com filhos e tinha uma relativa segurança financeira que me permitia arriscar. Quando a empresa nasceu ainda não sabia muito bem qual seria o nosso produto. Mas eu tinha uma grande referência: minha mãe. Ela fez tudo o que você possa imaginar em relação ao empreendedorismo real. Foi cabeleireira, corte e costura e etc. Por causa dela eu sabia que se eu me concentrasse em criar as bases do negócio o produto seria descoberto em questão de tempo.
Durante os mais de 7 anos empreendendo não foram poucas as vezes que estivemos próximos de fechar as portas. A falta de dinheiro, de clientes ou mesmo de experiência já me assustou. Nessas horas eu sei que ser uma pessoa negra me deixou preparado. Quem não passou por tantas adversidades talvez desistisse, pensaria em começar em outra coisa. Nós, negros, não temos essa opção. Nossa opção é sempre dar certo.
Se você perguntar aos meus filhos qual é a minha profissão eles vão dizer que eu sou o chefe, a pessoa que cuida de tudo. Mas um CEO é essa pessoa que tem a gana de ver a empresa crescer, que ajuda a levar a empresa adiante. É a pessoa que mais se preocupa em encontrar soluções quando um problema aparece.
Em um país em que 6 a cada 10 meninas de periferia não conhecem alguém que trabalhe com tecnologia e áreas parecidas, eu sei que o primeiro passo é colocar novas referências em evidência. A tecnologia é cada vez mais democrática e mais acessível. Não existe mais a barreira de precisar dominar matemática ou lógica para navegar nesse mundo.
Eu sou um homem negro que saiu do interior de São Paulo para a capa da maior revista de negócios do país e sei que posso inspirar outras pessoas.
Meu nome é Martin Luther Cândido e Silva. Sou mais uma (Se)mente.
* * *