Nasci em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Sou filho da Valéria, uma mulher branca e do Nilson, um homem preto que não esteve presente na minha infância e dos meus 2 irmãos. Com o passar do tempo eu consegui entendê-lo. Meu avô se tornou minha referência paterna. Ele era médico, militar e era um homem preto. Acabou se tornando uma referência profissional também.
Minha infância foi relativamente boa. Estudei em escolas particulares, estudei Artes. Nesses ambientes eu sempre me sentia diferente no meio da maioria branca. Quando comecei a pensar em profissão surgiram duas opções, muito por influência do meu avô: Escola Naval ou Medicina. Cheguei a fazer a inscrição para a Escola Naval quando estava na oitava série, mas quando fui visitar não gostei do ambiente. Quando fiz um teste vocacional o resultado foi Design. Resolvi me inscrever em segredo porque meu avô ainda achava que eu deveria ser médico. Quando passei na faculdade Belas Artes ele não gostou e ficou algumas semanas sem falar comigo, mas no final me apoiou e eu vim para São Paulo fazer o curso.
A faculdade foi um dos melhores e piores períodos da minha vida. O que trago de bom é tudo que eu aprendi, a base artística é muito forte e me desenvolvi nisso. Por outro lado, eu entrei na faculdade com apenas 16 anos, vindo de outra cidade. Era um ambiente muito xenofóbico, além de racista. Os estudantes vinham das mesmas escolas de elite de São Paulo, já se conheciam. Eu fazia os trabalhos de grupo sozinho até o quarto semestre. Nessa época eu já estava estagiando. Acabei trancando a faculdade e nunca mais voltei.
Meu primeiro estágio foi em uma pequena startup que teve muito sucesso no começo, mas depois o negócio não vingou. Depois disso passei por todo tipo de agência.
Cheguei a ter meu próprio escritório de Design por 3 anos. Foi a experiência mais louca e a mais gratificante da minha vida.
Comecei sozinho como freelancer e depois de algum tempo já não dava conta. Comecei a contratar as primeiras pessoas e de repente tínhamos uma folha de pagamento de 5 funcionários. Chegamos a atender marcas muito grandes, internacionais. Mas algumas adversidades, calotes e mesmo alguns desafios pessoais como o nascimento dos meus dois filhos me levaram a fechar o escritório.
Voltei para agências novamente a princípio, já como um profissional sênior. Desde então, já trabalhei em outras indústrias, até mesmo startups bilionárias me desenvolvendo como liderança de Design.
Ser uma liderança negra em Design é lutar contra a síndrome do impostor, a baixa autoestima e muitas vezes a dificuldade na construção de relacionamentos. Mas faço terapia desde os 15 anos e considero muito importante para o autoconhecimento. É o que me ajuda a ter uma visão mais abrangente de tudo e poder acessar a sensibilidade de conseguir nomear as coisas.
Se me perguntam o que faz um Designer é fácil de responder: eu deixo as coisas mais bonitas. Ao contrário do que pensam, não é preciso saber desenhar para ser Designer. Curiosidade é muito mais importante. Designers precisam ser questionadores.
Para o futuro eu fico muito dividido entre ocupar uma cadeira de CEO ou ter uma vida tranquila em que eu possa me dedicar à qualidade de vida e alguns hobbies. Gosto muito de samba, por exemplo, e tenho vontade de fazer aula de canto.
Meu nome é Thiago Moreira e sou mais uma (Se)mente.
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