Nasci na Zona Sul de São Paulo, no bairro Parque das Árvores. Digo que sou um preto privilegiado, porque minha família sempre foi muito estruturada e muito unida. Sou o filho do meio de um casal de irmãos.
Meu pai sempre trabalhou na indústria metalúrgica e, à medida que a gente ia crescendo, ele achava que nós teríamos que nos tornar metalúrgicos, porque para ele era um trabalho garantido. Ele nos incentivou a fazer cursos técnicos e, com 13 anos eu já era técnico de informática, porque ele foi lá e pagou pra mim. Lembro que, dentre os meus colegas de escola, eu era extremamente privilegiado por poder fazer um curso técnico pago. Com 14 anos comecei a trabalhar nessa área, e fiquei lá até começar a carreira no mundo corporativo.
Meu encontro com o mundo corporativo começou em 2013, quando passei em um processo seletivo para jovem aprendiz em uma multinacional de produtos alimentícios. Eu era leigo e pensava, por exemplo, que trabalhar na área de compras era ficar comprando várias coisas. Descobri que era muito mais complexo do que isso, envolvia fazer análises, fazer negociações com fornecedores, fazer cobranças...
Quando entrei nessa empresa, eu era uma das vinte pessoas pretas lá, dentre 600 colaboradores
Foram acontecendo vários aprendizados – foi a primeira vez que eu ouvi falar da Netflix, por exemplo. Estava acostumado a comprar DVD pirata na feira e quando falei isso na mesa de almoço, todo mundo me olhou estranho. Pela primeira vez tive contato com coisas que, para pessoas que são brancas, eram extremamente comuns.
Eu sempre gostei de ajudar pessoas, e quando saí dessa empresa, decidi colaborar como voluntário em uma ONG voltada para esportes no bairro onde eu morava. Foi um dos projetos mais marcantes da minha vida, onde chegamos a atender 350 jovens e impactar mais de 600 famílias.
Durante a pandemia, voltei para o mercado corporativo ao ser um dos 9 aprovados de um processo de trainee com 28 mil inscritos. Durante o período em que atuei nessa empresa esportiva, o que ficou claro pra mim era que eu precisava trabalhar com pessoas.
Quando saí, abri meu MEI e pensei ‘agora é comigo’. Fiz certificações, aprendi metodologias, comecei a correr atrás de empreendedores para fazer mentorias e consultorias. Paralelamente, comecei a dar aulas para jovens aprendizes, e me descobri um ótimo professor. Hoje também dou treinamento de vendas para uma rede de drogarias em São Paulo, ajudando profissionais a usar melhor a comunicação.
Desenvolvimento de pessoas é ajudar as pessoas a encontrarem o melhor propósito para a vida delas, e muitas vezes pessoas pretas não tem esse propósito. E não pode ser o propósito que outras pessoas querem pra gente, mas sim o que nós queremos. Não existem pessoas erradas, existem pessoas em lugares adequados e não adequados. Quero ajudar mais pessoas a mudarem a forma de pensar.
Meu nome é Lucas Souza e sou mais uma (Se)mente.
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