Nasci em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Quando tinha 3 anos mudei para uma cidade menor, onde morei até meus 20 anos. Tenho uma irmã mais velha, e fui criada por uma mãe solo.
Minha mãe começou a trabalhar como doméstica muito cedo, aos 7 anos. E por muitos anos, eu e minha irmã quase morávamos na casa da família que ela trabalhava. Era uma família acolhedora e a dona da casa se tornou minha madrinha. Quando eu era criança queria ser dançarina, mas sabia que no Sul não teria oportunidade de me profissionalizar.
Quando terminei a escola, precisei esperar minha irmã se formar. Para não ficar parada, fiz um curso técnico em Contabilidade, porque eu me dava bem com números, e continuei a estudar para prestar o vestibular. Mas eu queria estudar várias coisas, como Jornalismo, Nutrição e Química. Em cada universidade que eu apliquei, escolhia um curso diferente. Numa dessa apliquei para Meteorologia, curso que acabei fazendo.
As disciplinas envolviam saber exatas, por isso achei que iria me identificar.
O meteorologista pode trabalhar em várias áreas e não, não é a pessoa que vai apresentar o clima na TV.
A rotina da pessoa profissional de Meteorologia é bem pesada porque a gente precisa pensar em variáveis, precisamos pegar mapas e sites para acompanhar sistemas e o que pode acontecer com o clima. É um trabalho de monitoramento.
Acabei seguindo a área de Energia, onde faço todos esses processos de previsão do tempo, voltados para bacias hidrográficas. Então analiso quando vai chover, quanto de chuva vai cair na bacia, e se será suficiente para os picos de energia. Existem outras vertentes de atuação desta área. Quando comecei o curso, não entendi muito bem porque estava estudando algumas coisas. Mas no terceiro semestre comecei a fazer Iniciação Científica e não tive mais dúvidas de que tinha escolhido o curso certo.
Enquanto estudava, comecei a trabalhar com um professor que me acompanhava muito de perto, e isso me ajudou na hora da prática. Na faculdade, existiam poucas pessoas negras estudando comigo, mas ainda foi melhor do que na escola, mas haviam algumas situações racistas, como professores invalidando uma nota para uma alternativa que estava correta. No mestrado,também foi tranquilo. E, por incrível que pareça, senti mais dificuldades no doutorado, em São Paulo. Por mais que na USP existam estudantes negros, senti um racismo velado maior da parte dos professores.
Passei em primeiro lugar para fazer o mestrado e consegui me dedicar apenas aos estudos nesta época. Depois fiz o doutorado e comecei a procurar trabalho nessa área de Energia, porém os salários que as empresas ofereciam eram bem baixos. No fim consegui um trabalho para receber o dobro do que as outras empresas estavam ofertando, para trabalhar meio período, o que me permitiria continuar a dedicação ao doutorado. E depois dessa já tive outras experiências profissionais.
Vejo que a minha trajetória é de superação, mas a minha mãe foi a pessoa que mais se doou. Quando comecei a graduação, ela precisou assumir outro trabalho à noite para me manter, algo que para mim era muito doloroso de se ver. Hoje eu ser uma profissional consolidada, com mestrado e doutorado, a deixa muito orgulhosa.
Meu nome é Luana Ribeiro e sou mais uma (Se)mente.
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