Nasci na Zona Norte de São Paulo mas já morei em várias periferias na cidade e região metropolitana, como Itapevi, Guarulhos e ABC. Como sempre gostei de esportes, minha primeira vontade quando criança era de ser jogador de futebol. Quem nunca, né? Depois conheci o basquete, e percebi que era um esporte que me ensinou muito sobre disciplina. Pelo basquete acabei me aproximando do mundo do Hip Hop, e até me arrisquei a fazer algumas rimas.
Com 17 anos tive minha primeira experiência profissional, na área de logística. Cheguei a fazer um curso técnico de Direito, mas achei que não tinha nada a ver comigo. Mas acabei conhecendo um professor, e a forma como ele ensinava me chamou muito a atenção. Conversando, ele me explicou que dava aula há muitos anos e por isso foi evoluindo na sua prática docente. Foi a partir daí que decidi estudar Pedagogia, para aplicar um ensino que não seja “fechado em uma caixinha”. Acho que a escola em si já pode ser um local de muitas vivências. É na escola que começamos a pensar no que fazer depois na sociedade. Me formei este ano (2023) e já trabalho como pedagogo há dois anos.
Eu via os pedagogos como pessoas inteligentes, a serem valorizadas. Sim, são inteligentes, mas acho que também são pessoas dedicadas. A educação já mudou desde que eu estudava e ainda tem o potencial de ser inovadora e coletiva. Acredito que, às vezes, um jeito diferente de ensinar pode ajudar uma criança com dificuldade de aprender algo. O pedagogo é a pessoa que te dá ferramentas para lidar em cada necessidade. É o profissional que te oferece a cor amarela, por exemplo, pra usar em uma pintura, sempre dando a opção de usar um laranja, um rosa.
Pedagogia pode ser um desafio para os homens, principalmente negros. A educação infantil é vista como um trabalho para mulheres, onde os homens ficam destinados a darem aula de educação física.
Uma vez, me perguntaram qual o meu receio como pedagogo. Para mim, acho que é o fato de eu ser um cara grande, forte e negro. Só isso já me faz diferente na escola. E mesmo sempre tomando cuidado com o meu tom de voz e a forma como eu me apresento, vejo que isso pode ser uma barreira, porque a minha presença pode incomodar outras pessoas. Sei que não tem nada de errado comigo, mas preciso estar sempre na defensiva.
Gosto muito de trabalhar em equipe, e diversidade: ver homem, mulher, raças e etnias diferentes. Porque o mundo é diverso fora da escola. É importante ter diversidade desde a primeira infância, no momento da formação das crianças. Hoje trabalho com crianças de 2 a 6 anos, aumentando o repertório delas conforme vão aprendendo coisas novas. É um espaço de brincadeiras, para que essas crianças cheguem mais preparadas para começar a escola.
Sou cristão mas fizemos um trabalho recentemente sobre os orixás africanos, Foi uma forma de apresentar outra cultura, outra religião, de forma lúdica e respeitosa.
Pro futuro, desejo que mais pessoas tenham oportunidades como eu tive, porque ainda é uma área fechada. E eu, o menino que gostava de HipHop e fazia rap, hoje uso a música como forma de ensinar, porque é o primeiro contato com a criança. Até porque a música brasileira é uma potência.
Sou o Cayque Costa e também sou uma (Se)mente.
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