Eu nasci e fui criada na Cidade Tiradentes, um bairro periférico do extremo leste de São Paulo com fama de perigoso. Era uma criança bem tímida, mas desde cedo muito estudiosa, principalmente pelos incentivos da minha mãe. Meu pai até chegou a concluir o Ensino Médio, mas minha mãe teve que parar na terceira série do Fundamental e sentia falta. Ela sabia que os estudos abrem ou fecham portas e cobrava muito a gente.
Minha primeira opção de carreira era estudar Medicina. Queria fazer o vestibular para a Universidade de São Paulo mas havia uma desigualdade de acesso que foi o principal empecilho para essa graduação. Eu precisaria estudar em média mais 3 anos antes do vestibular e não tinha esse tempo. Além disso, Medicina é um curso que já elimina uma grande parte da população que não consegue manter os custos de estudar em período integral. Sem a gente trabalhar como é que vai viver?
Depois de descartar virar médica eu comecei a prestar atenção em um velho hábito do meu pai, um assíduo leitor de jornais. E assim me matriculei e me formei em Jornalismo. Minha ideia inicial era trabalhar como repórter, mas precisei de pouco tempo para perceber as dificuldades de ser uma mulher preta nessa área. Por isso, migrei para a área corporativa, trabalhando com assessoria de imprensa. E assim fiquei durante 10 anos até que, saturada, resolvi que era o momento de ter uma mudança de vida.
Tinha vontade de aprender inglês e fui para o Canadá. Usei todas as economias dos anos anteriores, tudo que eu tinha juntado na vida. Só retornaria ao Brasil 2 anos e meio depois.
Nesse período consegui parar para refletir bastante sobre a minha carreira e buscar outras possibilidades: Fui atrás do que outras pessoas que se formaram em jornalismo estavam fazendo. E aí me descobri na área de Marketing e Comunicação. É uma área mais objetiva, que trabalha mais com métricas e indicadores e isso tem muito a ver comigo.
No fim, eu não migrei apenas de área, mas também fui atuar em outro segmento, o mercado financeiro. Quis isso por dois motivos: é um setor que muda o tempo todo e, para quem gosta de estudar, isso se torna um desafio intelectual. E também pela remuneração que é mais vantajosa. Afinal, todo mundo trabalha para ganhar dinheiro mesmo que pessoas negras e periféricas não conversem tanto sobre isso. E eu sempre tive a parte financeira como um motivador de carreira.
Hoje eu trabalho como Coordenadora de Comunicação em um grande banco. O que eu faço? Sou a pessoa que pensa a estratégia, o roteiro, que junta as ideias de várias pessoas para a gente levar um filme, uma campanha para a TV, por exemplo. Que pensa como vamos abordar o tema de segurança, fraude, promoções ou qualquer outro assunto.
Para o futuro eu tenho sonhos ambiciosos. A gente sabe que, sendo preto ou preta, precisa fazer muito mais. Não gosto de muita badalação, desses discursos e eventos estilo ‘A favela venceu’. Eu quero continuar estudando, trabalhando e procurando meu espaço. Seja dentro do banco ou empreendendo. Quero continuar crescendo, me especializando cada vez mais e ser uma autoridade nos assuntos sob o meu domínio.
Meu nome é Meggy Araujo e eu sou mais uma (Se)mente.
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